65% dos brasileiros não têm acesso à web


29 abr 2010 - IR / Contribuições

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Por que 65% dos brasileiros ainda estão totalmente desconectados.

 

Ao ligar o computador, boa parte das pessoas abre instintivamente o browser. Checa suas contas de e-mail, navega em redes sociais, lê notícias, paga contas, faz compras. A vida online é viciante a partir do exato momento em que entramos nela. Pena que essa não seja a realidade da maioria da população no país. Segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2008 (PNAD), do IBGE, 65% dos brasileiros não têm acesso à internet. São 104,7 milhões de pessoas acima de 10 anos de idade, que em sua maioria estão nas regiões Norte e Nordeste, são analfabetas ou estudaram apenas o ensino fundamental, têm acima de 35 anos e pertencem a famílias com renda mensal de até três salários mínimos. O apagão digital brasileiro reflete o quadro de exclusão social.

 

Na última pesquisa de domicílios conduzida pelo Cetic.br, um braço do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), as principais razões apontadas para a falta de acesso à web em casa foram o preço elevado, a falta de interesse ou necessidade — um reflexo da baixa escolaridade — e a pouca habilidade com o computador. Nas áreas rurais, onde estão cerca de 15% da população e a exclusão digital chega a 82%, 27% das pessoas estão desconectadas porque simplesmente não existe internet. Levar a banda larga às regiões remotas é caro e o interesse é reduzido, o que afasta as operadoras de telefonia.

 

Apesar de ainda estar longe do ideal, o número de incluídos digitais aumentou 75,3% entre 2005 e 2008, segundo a PNAD. As estatísticas mostram que Amazonas, Maranhão e Roraima cresceram mais de 150%. Boa parte desse acesso vem das LAN houses.

 

Um real por hora

 

Até pouco tempo atrás, as LAN houses eram vistas como centros de jogos em rede frequentadas por jovens. O perfil mudou. Grandes redes fecharam filiais e pequenos locais, com menos de dez PCs, espalharam- se. A Associação Brasileira de Centros de Inclusão Digital (Abcid) estima que há 108 000 LAN houses no país. Além de acessar a web, as pessoas usam os espaços como centros de convivência. A hora de uso custa entre 1 real e 2 reais.

 

A operadora de telemarketing Pâmela Zellenkoff Procópio, de 22 anos, vai quase todo dia a uma das cinco LAN houses próximas a sua casa, na zona oeste paulistana. Costuma passar duas horas atualizando fotos no orkut e conversando pelo MSN. Pâmela tem computador, mas seu orçamento não permite a banda larga doméstica. “Na LAN house a hora passa rápido porque você se empolga. Não é caro, mas o dinheiro vai sem você perceber”, diz. O que ocorre com Pâmela é visto em outros 4 milhões de domicílios no país, segundo dados do Cetic.br. A venda de computadores chegou a 12 milhões em 2009, mas o custo é o principal fator para que nem todos tenham internet.

 

A maioria das LANs vive na informalidade. Apenas 15 000 têm cadastro como empresas (muitas em outras atividades), 3 400 têm alvará das prefeituras e menos de 300 têm autorização para receber menores. Dos 250 000 empregos diretos, 85% não têm carteira assinada. Muitas cidades impuseram leis para as LANs. No Rio de Janeiro é proibido abrir LAN houses a menos de um quilômetro de centros de ensino. “Há um emaranhado jurídico que não favorece a formalidade”, diz Mario Brandão, presidente da Abcid.

 

Segundo dados do Ibope Nielsen Online, o acesso à internet em LAN houses está caindo — um sinal do aumento da banda larga residencial. “O crescimento da renda, a maior oferta de crédito e a diminuição do preço dos computadores têm contribuído”, diz José Calazans, analista de mídia do Ibope Nielsen Online.

 

30 minutos no telecentro

 

Para quem não pode pagar pelo uso, há outras possibilidades. Uma delas é a do modelo adotado no projeto Acessa SP, do governo paulista. Por ele, são construídos telecentros, principalmente em locais de grande movimento, como no metrô, com acesso gratuito. No estado de São Paulo há 553 postos em 488 cidades, e a meta para este ano é chegar a 601 unidades em 533 municípios. O projeto tem 1,2 milhão de cadastrados e permite o uso por 30 minutos. “Já temos dois postos em assentamentos rurais no Mirante do Paranapanema”, afirma Alexandre Araújo, diretor de serviços ao cidadão da Prodesp. Dois terços dos usuários têm renda familiar inferior a dois salários mínimos e 64% não têm computador em casa. Outro programa, o Acessa Escola, levou 25 000 PCs a 1 400 escolas e pretende chegar a 3 500 até o final do ano.

 

Mais uma possibilidade de acesso gratuito está no modelo do Rio Estado Digital, adotado pelo governo fluminense. É com ele que o DJ Thiago Firmino, de 29 anos, usa a web no morro Santa Marta, na cidade do Rio. O local foi a primeira favela a receber internet por Wi-Fi no estado. “A internet sem fi o aqui melhorou nossa vida e nos igualou a outras pessoas que não moram na comunidade”, diz Firmino. Ele assinou, com vizinhos, um plano de banda larga, mas o serviço era ruim e a empresa não fazia manutenção no local.

 

Além do Santa Marta, a Cidade de Deus, a avenida Brasil, algumas orlas e parte da Baixada Fluminense têm Wi-Fi. Cantagalo e Rocinha serão as próximas. “Pensamos a inclusão digital como um formador de renda. No Santa Marta vende-se até empadinha pela internet”, afirma Alexandre Cardoso, secretário de Ciência e Tecnologia do estado. A velocidade é baixa, cerca de 300 Kbps. Os investimentos superam 13 milhões de reais e beneficiam 4 milhões de pessoas.

 

Plugados na escola

 

Um dos ganhos com a inclusão digital é a redução da desigualdade social, sobretudo quando ela é feita nas escolas. É o caso de Barra de São Miguel, cidade a 30 quilômetros de Maceió — o estado de Alagoas tem o pior índice de inclusão digital do país e apenas 17,8% da população acessam a web. A Escola de Ensino Fundamental Professora Medéa Cavalcanti de Albuquerque recebeu a primeira iniciativa de inclusão digital da cidade há quase dez anos, numa parceria com a então Telemar. O colégio, que tem 1 380 alunos e 61 professores, integra o projeto Oi Tonomundo, que leva laboratórios a escolas. “Usamos os computadores como meio de aprendizagem, principalmente em aulas de matemática e ciências”, diz Emília Argolo, diretora da escola. A comunidade também pode usar a internet no colégio, no período fora das aulas.

 

Como Barra de São Miguel vive do turismo, a prefeitura é a principal empregadora. Boa parte dos estudantes que trabalha para o governo municipal saiu da escola. “Promover a inclusão não é só dar acesso à internet, mas ensinar a processar as informações”, diz Samara Werner, diretora de Educação do Oi Futuro, instituto que mantém o projeto. O Ministério da Educação tem se esforçado para levar computadores e internet a colégios. “A meta para 2010 é ter laboratórios em 86 000 escolas. As melhores no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica tinham PCs”, afirma Nelson Fujimoto, assessor de Inclusão Digital da Presidência da República.

 

Banda realmente larga?

 

O Brasil tem hoje 10,1 milhões de acessos fixos, numa densidade de 5,8% da população. O país é o último entre os 20 maiores mercados de internet rápida do mundo. Os maiores problemas são preço, qualidade, cobertura e velocidade. Segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, o valor médio mensal é de 162 reais. A velocidade é baixa: 66% das conexões têm menos de 1 Mbps, sendo que dois terços dessas chegam a 256 Kbps. A comparação com outros países é vergonhosa. A conexão aqui é 9,6 vezes mais cara que a japonesa e 24 vezes maior que a americana.

 

No momento, o governo federal e a sociedade civil discutem o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL). “Um dos propósitos é ofertar estrutura onde não há interesse das operadoras”, diz Rogério Santanna, secretário de logística e tecnologia da informação do Ministério do Planejamento. A ideia é reduzir o preço em até 70%, com uma queda da carga tributária. O projeto deve ter investimento de 15 bilhões de reais.

 

Segundo o governo, a redução de preço poderia vir, por exemplo, da inclusão de uma empresa estatal no mercado, que aumentaria a competição. “As privatizações criaram monopólios regionais e não a livre concorrência. Uma estatal seria mais um player”, afirma Marcelo Branco, ex-diretor-geral da Campus Party e membro da Associação Software Livre. É esperar, para acessar.


Fonte: NIC.br