Pequenas se adaptam para conquistar grandes


5 jul 2010 - IR / Contribuições

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Empresas investem em aspectos físicos, sociais, fiscais e ambientais

Oportunidade para crescer e se projetar no mercado.
É assim que muitas pequenas empresas enxergam a chance de fornecer para um cliente de grande porte.
Para entrar nesse clube, porém, é preciso se adequar a exigências cada vez mais rígidas em termos físicos, sociais, fiscais e ambientais.
Isso porque as grandes empresas são pressionadas por leis e pelo mercado a seguir uma série de normas que têm como objetivo reduzir os riscos para os investidores, os clientes e as demais partes interessadas. É a chamada governança corporativa.
Algumas dessas regras são estendidas pelas multinacionais para todos os membros de sua cadeia produtiva.
"Se um fornecedor tiver um problema fiscal, por exemplo, pode comprometer a reputação de seu cliente", explica Carlos Airton Pestana Rodrigues, diretor da consultoria Governance Solution e professor da BSP (Business School São Paulo).
Assim, gigantes como Petrobras, Bradesco, Vale e Grupo Algar, que trabalham com pequenas empresas em sua cadeia, ressaltam a importância de se cumprirem exigências.
As obrigações abrangem publicação de balanços de acordo com princípios contábeis internacionais, adoção de padrões de qualidade (como os da ISO) e de rotulagem e adequação para obtenção de certificados ambientais.
No McDonald's, por exemplo, o pilar é a segurança alimentar, conforme afirma Celso Cruz, diretor da cadeia de suprimentos da multinacional. "Todos os fornecedores têm de se basear nisso."

 

 

EXIGÊNCIAS DAS GRANDES EMPRESAS

FISCAIS

Pagar impostos devidamente e adequar-se à classificação da Receita Federal
O que fazer: resolva dúvidas com o contador e procure a Receita para verificar a situação da empresa

DE GESTÃO
Ter controles internos e apresentar balanços de acordo com princípios internacionais
O que fazer: solicite ao contador ou treine profis-sionais internos. O Sescon (sindicato das empresas contábeis) pode ajudar

SOCIAIS E AMBIENTAIS
Registrar funcionários segundo o Ministério do Trabalho e adotar práticas que reduzam o impacto ambiental
O que fazer: contate consultorias e guie-se pela série 14.000 das normas ISO

 

Fontes: consultores

Gasto com adaptação é entrave

Custos com regularização de funcionários e equipamentos pesam para pequenas empresas

DE SÃO PAULO

Os investimentos necessários para se adequar às exigências de grandes clientes são o principal entrave para micro e pequenas empresas.
"É a primeira queixa dos empresários [que nos procuram]", comenta Heloisa Bedicks, superintendente do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa).
Os custos fixos podem aumentar por mudanças como troca de máquinas e necessidade de formalização de profissionais segundo a CLT.
Empresas com funcionários sem registro, comum entre as de menor porte, são impelidas a regularizar a situação -e a arcar com encargos trabalhistas que representam 25,1% do salário, segundo o Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos).
É o preço que pagam para poder integrar o clube dos fornecedores das grandes corporações, como fizeram as empresas Guardanapos Leal, CorpFlex, Crivo e form4.biz.
Há, no entanto, alguns caminhos que podem amenizar o aumento dos custos. "No início [das adequações], a empresa pode convidar executivos para compor seu conselho consultivo voluntariamente", avalia Bedicks.
Outra dica é que o próprio empresário crie políticas, como a de cargos e salários, acrescenta Mauro Johashi, sócio-diretor da divisão de Auditoria e Sustentabilidade da Crowe Horwath RCS.
"Explicar aos funcionários de que forma eles podem crescer na empresa cria um caminho para a transparência", avalia Johashi.
Dinheiro não é o único entrave -devem-se considerar as barreiras culturais. "Houve uma empresa que buscou o instituto para melhorar processos. O fundador, porém, dizia que não precisava", lembra Bedicks.
"É preciso convencer-se de que a continuidade passa pela renovação", diz Johashi.

 

Preocupação ganhou espaço nos anos 1990

O tema governança corporativa ganhou visibilidade a partir do fim dos anos 1990, com os escândalos financeiros de companhias como Enron e Worldcom.
Para garantir a segurança de investidores e evitar a fuga de capital, os EUA instituíram, em 2002, a lei Sarbanes-Oxley. Ela endureceu as regras fiscais para empresas com ações na Bolsa de Nova York.
A governança tornou-se parâmetro a investidores e, logo, a empresas que desejavam obter aporte -mesmo as de capital fechado. Para garantir o controle da gestão, estenderam as exigências aos fornecedores.


Fonte: Folha de São Paulo