Lei Nº 12619 DE 29/10/2025


 Publicado no DOE - ES em 30 out 2025


Institui a Política Estadual de Linguagem Simples a ser observada pelos órgãos e pelas entidades da administração pública direta e indireta do Estado do Espírito Santo.


Gestor de Documentos Fiscais

O GOVERNADOR DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO

Faço saber que a Assembleia Legislativa decretou e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º Fica instituída a Política Estadual de Linguagem Simples nos órgãos e nas entidades públicas estaduais com os seguintes objetivos:

I - garantir, na comunicação governamental com as pessoas, o uso do conjunto de técnicas redacionais conhecido como Linguagem Simples e Design Acessível, que usa palavras, estrutura e apresentação gráfica e elementos claros, precisos, acessíveis e inclusivos;

II - promover autonomia e indepedência de compreensão das informações na comunicação entre a gestão pública e as pessoas;

III - possibilitar que a pessoa leitora do texto encontre facilmente as informações de que precisa para que, após compreendê-las, possa saber como agir;

IV - estimular, na gestão pública capixaba, uma comunicação objetiva de textos, em que as informações sejam apropriadas ao público a que se destinam;

V - promover a transparência ativa e o acesso à informação pública;

VI - facilitar a participação popular e o controle social da gestão pública;

VII - reduzir os custos administrativos e o tempo gasto com atividades de atendimento ao público.

Art. 2º Os princípios orientadores da Política Estadual de Linguagem Simples são:

I - relevância: as informações devem atender às necessidades das pessoas leitoras;

II - capacidade de localização: as pessoas leitoras devem encontrar facilmente as informações necessárias;

III - compreensibilidade: as informações devem ser compreensíveis para todas as pessoas;

IV - aplicabilidade: as informações devem ser utilizáveis de forma fácil pelas pessoas.

Art. 3º As diretrizes da Política Estadual de Linguagem Simples são:

I - foco na autonomia e independência: facilitar a compreensão da leitura à pessoa cidadã, a fim de possibilitar a sua ação com base nas informações, sem necessidade de ela ter conhecimento especializado do tema abordado;

II - empatia com quem lê: comunicar considerando as necessidades e as perspectivas da pessoa leitora;

III - bem-estar e igualdade social: promover o bem-estar e a igualdade social por meio de uma comunicação inclusiva;

IV - informação acessível e transparente: tornar a informação pública acessível, transparente, eficiente e eficaz;

V - uso de linguagem comum e precisa: utilizar palavras populares e precisas para uma comunicação clara e inclusiva.

Art. 4º São partes integrantes desta Lei:

I - o Anexo I, que contém as definições de termos usados nesta Lei;

II - o Anexo II, que contém as etapas da construção de textos com técnicas de Linguagem Simples e Princípios de Design;

III - VETADO;

IV - VETADO.

Art. 5º Os princípios e as diretrizes formam o padrão indicativo de comunicação adotado nesta Política Estadual de Linguagem Simples.

Parágrafo único. As etapas da construção de textos com técnicas de redações com Linguagem Simples e métodos de Design Acessível, a título orientativo e exemplificativo, constam no Anexo II desta Lei.

Art. 6º Os procedimentos da Política Estadual de Linguagem Simples são os seguintes:

I - comunicação como diálogo cidadão: estimular a comunicação governamental como um diálogo para fortalecer a cidadania;

II - linguagem empática e inclusiva: transmitir empatia, respeito, inclusão, simplicidade e cordialidade por meio da linguagem;

III - identificação de público de interesse e de objetivo: definir claramente a pessoa a quem se destina a informação e o objetivo principal do texto;

IV - organização por relevância: estruturar as informações por ordem de relevância: essenciais, importantes, complementares e auxiliares;

V - linguagem universal direta: preferir palavras conhecidas, populares e inclusivas, evitando siglas sem explicação, excesso de detalhes e expressões redundantes;

VI - práticas de linguagem além de palavras: focar no que as pessoas leitoras precisam saber, usar uma sequência lógica, empregar técnicas de comunicação e de redação design.

Parágrafo único. VETADO

Art. 7º VETADO.

Art. 8º VETADO.

Art. 9º Com a implementação da Política Estadual de Linguagem Simples, a gestão pública capixaba é incentivada a:

I - criar e institucionalizar ações permanentes, estabelecendo núcleos internos de linguagem simples para promover a continuidade das práticas;

II - incorporar a linguagem simples no planejamento estratégico, integrando a linguagem simples como elemento fundamental no planejamento das ações governamentais;

III - participar de redes e instituições conectadas ao tema, colaborando ativamente com iniciativas relacionadas à linguagem simples.

Art. 10. VETADO.

Art. 11. VETADO.

Art.12. VETADO.

Art. 13. VETADO.

Art. 14. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Palácio Anchieta, em Vitória, 29 de outubro de 2025.

JOSÉ RENATO CASAGRANDE

Governador do Estado

ANEXO I

“Definições de termos usados nesta Lei”

Pelo direito de fundamental de entender!

Definições de termos usados nesta Lei.

Que tal simplificarmos algumas palavras e expressões técnicas da Lei?

a) público de interesse: pessoa leitora do texto.

b) texto: refere-se a todo e qualquer tipo de ato, documento, comunicação, lei, parecer, edital etc.

c) gestão pública capixaba: refere-se a órgãos e a entidades da administração direta e indireta do Estado do Espírito Santo.

d) entidades da administração direta e indireta:

Administração Direta: são órgãos que integram a estrutura dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.

Exemplos incluem ministérios, secretarias e autarquias.

Por exemplo: ligadas ao Poder Executivo, temos as secretarias de Estado (Educação, Segurança, Planejamento, Fazenda etc.); ligada ao Poder Legislativo, a Assembleia Legislativa; e, ao Judiciário, o Tribunal de Justiça.

Administração Indireta: são entidades com autonomia em relação à administração direta, criadas por lei para realizar atividades específicas. Incluem autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades de economia mista.

Por exemplo: autarquias (Detran – Departamento de Trânsito do Estado do Espírito Santo), fundações públicas (FAPES – Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo), sociedades de economia mista (Banco do Estado do Espírito Santo – BANESTES) etc.

e) design acessível: sistema ou método de projeto focado em princípios para ampliar o design padrão, incluindo pessoas com necessidades específicas, a fim de ampliar o número de beneficiários que podem usar prontamente um produto, edifício ou serviço. A combinação da linguagem simples com o design acessível no contexto da comunicação torna-a descomplicada, inclusiva e acessível a todas as pessoas.

f) pessoa usuária: é a pessoa que usa um sistema, por exemplo. No caso específico da comunicação em linguagem simples, é a pessoa cidadã a quem as informações públicas são dirigidas.

g) planejamento estratégico: processo de estabelecer metas, definir ações e alocar recursos para alcançar objetivos a longo prazo. No contexto governamental, o planejamento estratégico envolve a definição de diretrizes e prioridades para a administração pública, buscando melhorar a eficiência e a eficácia na entrega de serviços.

h) dotações orçamentárias: são autorizações contidas na Lei Orçamentária Anual (LOA) que permitem a arrecadação e a utilização de recursos financeiros pelo governo. As dotações orçamentárias indicam o montante de dinheiro destinado a cada órgão, programa ou despesa específica.

i) despesas decorrentes: para que os órgãos implementem a Linguagem Simples de acordo com esta Política Estadual, pode ser necessário o uso de recursos financeiros. Portanto, qualquer despesa para implementar esta Política fará parte da dotação orçamentária de cada órgão e entidade.

j) institucionalizar ações permanentes: os órgãos públicos são incentivados a tornarem a Linguagem Simples forma oficial, contínua e permanente de promoção da mudança na cultura da comunicação governamental.

k) Poder Executivo: em sistemas políticos baseados na tripartição de poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), o Poder Executivo é responsável pela implementação e execução das leis. No nível estadual, o chefe do Poder Executivo é o governador, que lidera o governo e seus órgãos, entidades na condução das políticas públicas e administração do estado. O Poder Executivo tem funções executivas e administrativas.

l) integra para todos os efeitos legais: indica que um documento ou anexo faz parte da lei e, portanto, tem validade jurídica.

m) padrão de linguagem simples: o padrão é formado por princípios, diretrizes, elementos de comunicação e é base orientadora para a redação de textos claros, acessíveis e compreensíveis, promovendo a cidadania.

n) Norma ISO 24495-1:2024: norma internacional que define princípios para a criação de documentos em linguagem simples, facilitando a comunicação global.

o) imparcialidade linguística: a norma não se aplica apenas ao inglês, sendo imparcial em relação à linguagem, pode e deve ser adaptada para diferentes idiomas.

p) Marco Global da Linguagem Simples: celebração anual do Dia Mundial da Linguagem Simples, marcado pela assinatura da "Plain Writing Act" nos Estados Unidos.

q) feedback: é apreciação, avaliação, comentários, crítica, ideias, observações sobre determinado assunto, programa, material etc.

ANEXO II

“As etapas1 da construção de textos com técnicas de Linguagem Simples e Princípios de Design”

O Caminho da Escrita Clara e Eficaz

Escrever com clareza é fundamental. Para alcançar isso, a título exemplificativo, siga estas nove etapas para escrever de forma eficaz:

1. Conheça Seu Público:

• Identifique as pessoas com quem precisa se comunicar. Ou seja, o público-alvo, a pessoa leitora da comunicação escrita em linguagem simples.

• Entenda suas características, necessidades, habilidades e nível de compreensão.

• Conheça seus interesses e o que já sabem sobre o assunto.

• Se houver diferentes grupos de pessoas, identifique o principal público-alvo.

2. Defina Seu Tópico:

• Escolha um assunto ou identifique o problema que você pretende abordar.

• Certifique-se de que o conceito a ser comunicado esteja claro.

• Realize pesquisas sobre o tema para embasar sua escrita.

3. Tenha um Propósito Claro:

• Explique por que é importante comunicar essas informações.

• Pergunte a si mesmo o que as pessoas leitoras farão com o que você está escrevendo.

• Obtenha um profundo conhecimento dos fatos relacionados ao seu motivo de escrita.

4. Considere as Condições e Contextos:

• Avalie se há pressão de tempo, restrições de orçamento ou diferentes pontos de vista sobre o assunto.

• Planeje como enfrentar esses desafios.

5. Escolha o Meio de Comunicação:

• Decida como e quando seu texto será usado.

• Pondere se ele será apresentado online ou em formato impresso.

• Leve em conta possíveis limitações de tamanho.

6. Prepare o Rascunho Inicial:

• Comece a escrever seu texto, mantendo a pessoa leitora e seu propósito de informação em mente.

• Organize as informações por ordem de relevância (essenciais, importantes, complementares e auxiliares).

• Divida o texto em parágrafos curtos, tópicos e seções com títulos e subtítulos, de acordo com a ordem de relevância das informações.

• Elabore textos simples para a pessoa leitora obter o quê precisa (relevante) rápido e objetivamente.

• Use palavras que expressem empatia, respeito, igualdade, cidadania, democracia, impessoalidade, como forma de destacar a importância da comunicação pública eficiente e eficaz.

• Evite excesso de detalhes e expressões, palavras desnecessárias, como por exemplo “não obstante qualquer disposição desta Lei”; “sujeito a esta Lei”; “considerando”.

• Dê preferência a frases curtas na voz ativa, ou seja, na ordem sujeito-verbo-objeto.

• Escreva palavras de uso e costumes comuns à época atual, conhecidas, inclusivas.

•Evite palavras estrangeiras que não sejam de uso popular.

• Use, de preferência, palavras sinônimas de termos técnicos, jurídicos, jargões, siglas, ou, se for necessário o uso, devem ser explicados no próprio texto.

• Prefira palavras que representem fatos, objetos, lugares, ações, em vez de ideias ou conceitos.

• Priorize verbos em vez de palavras derivadas de verbos.

• Não use termos pejorativos.

• Complemente o texto com elementos não textuais (ícones, infográficos, linha do tempo, fotografias etc.), se for preciso, para oferecer mais clareza e reforço da mensagem textual.

7. Revise Cuidadosamente:

• Releia seu rascunho para identificar quaisquer obstáculos comuns à comunicação.

• Certifique-se considerar fatores técnicos e legais que precisam ser incluídos, sempre explicados com linguagem simples.

8. Valide sua Escrita:

• Idealmente, teste seu texto com uma amostra de seu público-alvo ou usando outros recursos, se forem necessários.

• Certifique se sua mensagem é identificada e compreendida pelas pessoas leitoras com quem pretende se comunicar.

• Garanta que as pessoas leitoras possam ler e agir com autonomia, com independência, sem explicações adicionais e sem intermediários especialistas no tema abordado.

9. Reorganize e Disponibilize:

• Reorganize e refine seu texto com base no propósito da escrita e no retorno recebido de quem o leu.

• Certifique-se de que seu texto esteja disponível para seu público-alvo, pronto para atender às suas necessidades.

ANEXO III - VETADO

ANEXO IV - VETADO.